A confirmação de dois casos de sarampo em São Paulo, um deles na capital e o outro na cidade de São Vicente, no litoral sul do estado, trouxe de volta uma preocupação que ficou adormecida nos dois anos da pandemia do novo coronavírus: a possibilidade de um surto da doença, como aconteceu em 2019.
De acordo com o Ministério da Saúde, naquele ano houve 18.203 casos confirmados e 15 mortes no Brasil. Com isso, o país perdeu o certificado de erradicação da doença, concedido em 2016 pela Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).
Para Juarez Cunha, presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), o distanciamento social imposto pela Covid-19 passou a ideia de que o surto de sarampo estava resolvido, porém, isso não era real.
“Os números diminuíram em decorrência das medidas não farmacológicas adotadas para a Covid-19, porque o sarampo também se transmite de forma respiratória, mas nós continuamos com um surto no país. Ainda tínhamos casos em São Paulo e Amapá, mesmo durante a pandemia. A tendência é que esse quadro aumente agora”, alerta o pediatra.
A única forma de combater a doença é por meio da vacinação, que no Brasil tem registrado coberturas cada vez menores. Dados do DataSUS (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde) mostram que no ano passado pouco mais de 49% da população tinha as duas doses do imunizante contra o sarampo – o número considerado ideal é 90% da população.
“Isso significa que temos um número muito importante de crianças suscetíveis acumulando ano a ano, porque essa queda tem sido observada de alguns anos para cá. Além de muito adultos que não foram vacinados porque na época deles não tinha vacina ou simplesmente porque não aderiram à campanha de vacinação”, explica Juarez Cunha.
Para se ter uma ideia da baixa adesão à vacinação no país, a campanha deste ano começou no dia 3 de abril e até agora o número de doses aplicadas não chegou a 400 mil. O Ministério da Saúde estima que 18.822.908 brasileiros estejam aptos a receber o imunizante.
A grande preocupação no cenário de baixa vacinação acontece devido à alta taxa de transmissibilidade da doença. Em uma população suscetível, cada caso confirmado pode transmitir a infecção para, no mínimo, 12 pessoas e, no máximo, 18.
“Ela é considerada uma das doenças mais transmissíveis. Então, em um ambiente em que estiver alguém com sarampo junto de não vacinados ou que não tiveram sarampo, a tendência é essa pessoa infectar todos que estão ali. Ela tem uma transmissibilidade de até 18 vezes”, ressalta o presidente da SBIm.
A complacência é apontada como o principal fator para a baixa cobertura vacinal. “A ideia que as pessoas têm de que [para] doenças que elas não conhecem, nunca viram, não é preciso se vacinar leva a esses índices baixos”, lamenta o médico.
Porém, é importante lembrar que o sarampo segue sendo umas principais causas de morte de crianças nos países menos desenvolvidos, apesar de existir uma vacina segura desde 1963.
“Pode ter consequências muito graves, pode levar à morte, à internação hospitalar, pode deixar sequelas – e temos uma vacina segura, eficaz e gratuita”, incentiva o especialista.
Por; R7